Com poder de mudança diário, startups transformam o comportamento humano e o mercado, trazendo soluções de grande impacto
Elas não param de surgir no mercado e já colocam Minas Gerais em segundo lugar no ranking nacional, com cerca de 300 startups formalizadas, podendo este número dobrar. A confirmação sairá até o final deste ano com a divulgação do Censo 2017 das Startups Mineiras. O levantamento começou em setembro. De acordo com Rodolfo Zhouri, coordenador do Hub Minas Digital, iniciativa da Secretaria de Estado de Desenvolvimento Econômico, Ciência, Tecnologia e Ensino Superior (Sedectes) responsável pelo censo, tudo o que chegou até hoje de informações sobre o ambiente de startups em Minas Gerais foi valioso, mas ainda é muito superficial.
O censo permitirá entender onde estão os problemas, as expectativas e dificuldades que o empreendedor encontra para formar uma empresa. Todos esses desafios foram colocados no levantamento, incluindo as dificuldades burocráticas, regulamentação e aspectos tributários. Com os resultados será possível formular políticas públicas e ações para estimular a criação de novas startups e o desenvolvimento das que já existem, oferecendo soluções melhores para o ambiente de negócios.
Segundo estado no país em número de startups, Minas está trabalhando e investindo para se transformar no polo de inovação e empreendedorismo da América Latina. Um de seus diferenciais está em Belo Horizonte, onde funciona o Startups and Entrepreneurship Ecosystem Development (SEED, de semente, em inglês), único programa de aceleração com recursos públicos do Brasil, referenciado no mundo como um dos melhores do continente. Compete apenas com o Startup Chile, programa federal do país vizinho.
Anualmente, 40 projetos de diversos lugares do mundo são selecionados para o SEED por meio de edital internacional para receberem um capital-semente (ajuda financeira) de até R$ 80 mil por empreendimento, além de disporem de estrutura, orientação e incentivos, na tentativa de atrair e reter novos talentos no estado. “Nossa estratégia é deixar o terreno tão fértil que o empreendedor vai querer se estabelecer em Belo Horizonte”, afirma Silvana Braga, diretora-geral do SEED.
O programa atua de forma personalizada para cada startup, trabalhando a aceleração do negócio e ajudando no processo de desenvolvimento dele como um todo. O espaço de coworking da aceleradora, além de reduzir custos, é muito importante para a cooperação e troca de experiências entre os empreendedores e ampliação das potencialidades de negócios. Se a proposta original não vinga, o SEED tenta conectar o empreendedor a outras possibilidades. “Startup é uma cultura diferente, uma transformação, mas não um modismo. A gente está numa revolução e quem não estiver preparado para este mundo não vai sobreviver”, afirma Silvana.
Na sede do SEED, é possível comprovar o grau de comprometimento das startups que hoje compõem a quarta rodada do programa que terminará em dezembro. No espaço, empreendedores do Brasil e de outros países consolidam negócios e trocam experiências sobre suas dificuldades e sucessos.
Há quase quatro meses morando em BH, os chilenos Antonio Grass e Nicolas Serrano são os criadores da DataScope, uma das 40 startups aprovadas no processo de seleção do SEED. A proposta é eliminar o uso de papel em impressão no Brasil. “Estes papéis serão substituídos pela leitura com um dispositivo como smartphone para guardar e gerenciar a informação em tempo real, na nuvem, melhorando a produtividade e ajudando na tomada mais rápida de decisões”, explica Grass.
Eric Alves da Rocha, de Novo Hamburgo (RS) e seus três sócios também resolveram apostar nas orientações do Seed. A Saipos, criada este ano, é um software de gestão para facilitação de negócios de pequenos varejistas do ramo de alimentação. “O ecossistema de empreendedorismo de Minas é muito rico, coisa que a gente não via nesse nível no Sul”. Hoje, a Saipos atende cerca de 60 clientes e está integrada ao aplicativo de delivery iFood, um de seus parceiros.
Em Belo Horizonte, também nasceu a Rectrix, startup que oferece uma solução para ajudar lojistas com redes próprias ou franqueados a aumentarem seu faturamento por meio da análise do processo do que é preciso ser melhorado no negócio. Fernando Piancastelli, CEO da Rectrix, conta que é a primeira vez que a startup, formalizada em 2016, está no SEED. “Aqui temos acesso a outras portas no mercado, e a capacitação da startup como um todo”.
Também a Federação das Indústrias de Minas Gerais (Fiemg) está atenta ao mercado da inovação e criou o Fiemg Lab Novos Negócios. O programa de aceleração e inovação aplicada foi lançado em junho de 2016 com o propósito de gerar novos negócios de impacto. Hoje, é considerado o maior programa de conexão de startups com o mercado da América Latina. “Esse movimento amplo de rápida evolução tecnológica transforma o comportamento humano, desde o processo de comunicação até a maneira como a gente trabalha”, pontua o coordenador do Fiemg Lab Novos Negócios, Fabio Veras de Souza. Segundo ele, a matriz do desenvolvimento econômico é cada vez mais determinada pelos reflexos dos negócios digitais e pela presença do software como elemento transversal a toda atividade portadora de inovação. “Esse movimento já tem cerca de 20 anos, mas se tornou mais intenso na última década. Um dado que corrobora isso é que, do PIB norte-americano de US$ 15 trilhões, US$ 1 trilhão é gerado por 20 empresas que não existiam há 20 anos”, exemplifica. Ou seja, as startups são o futuro da economia.
Fabio Veras afirma que 1.306 projetos se inscreveram no programa e 608 atingiram os critérios para serem examinados. Desses, cem foram selecionados – 73 startups, dez spin-offs corporativas (quando a empresa desenvolve uma tecnologia ou negócio dentro de sua atividade principal) e 17 spin-offs acadêmicas. Agora em novembro, 15 times estão passando para a fase 3 da aceleração, com foco em evoluir o modelo de negócios e validar o produto ou serviço no mercado. Ao final, restarão cinco negócios de grande impacto. Entretanto, aqueles que saírem continuam fazendo parte do Fiemg Lab Community, com acesso ao coworking do programa e endosso da Fiemg à prospecção de mercado. “Temos startup que desenvolve rastreamento de câncer de ovário e útero, que faz impressão 3D de um assemelhado de pele humana para fazer exames laboratoriais, que desenvolve aplicações comerciais de holograma, que usa computação cognitiva para melhorar a performance da recuperação de crédito das empresas”, exemplifica.
Uma delas é a Virturian, focada em resolver o problema de confiabilidade dos equipamentos industriais. “É um software que monitora a condição dos equipamentos, fazendo análise preditiva para a manutenção. O público são grandes empresas que têm processo de produção em larga escala”, explica o engenheiro de controle e automação Rafael Costa, CEO da Virturian. Basicamente, o software lê as informações de cada aparelho, a partir das variáveis corrente elétrica e rotação do motor, processa esses dados e informa as condições do equipamento por meio de mensagem de texto. “É uma inteligência que permite a redução drástica de custos de manutenção e o aumento da disponibilidade do equipamento, dando maior capacidade de produção. Ou seja, menos custos de manutenção e maior capacidade produtiva”, destaca Rafael. Além do CEO, a equipe conta com os sócios Augusto Pereira, Gabriel Salgado, Carlos Barreto e Rafael Menezes.
Outro projeto participante é o Our Sun, um hardware para desenvolvimento de inversores fotovoltaicos. A engenheira química Bárbara Andrade de Carvalho conta que, antes do Fiemg Lab, a ideia era fazer leasing de sistemas fotovoltaicos. “Foi a partir do programa que a gente entrou em contato com o mercado e percebeu a demanda que existia para um inversor com preço mais acessível”, afirma. Segundo ela, no momento, a equipe (ela e mais três pessoas) está fazendo o protótipo, e a estimativa é ter o produto final ainda este ano.
E já que inovação é palavra-chave, a Biomimetic Solutions não poderia ficar de fora. As engenheiras de materiais Lorena Viana Souza, Ana Elisa Antunes e Alana Benz e as pesquisadoras Aline Silva e Roberta Viana, do Centro Federal de Educação Tecnológica de Minas Gerais (Cefet-MG), estão por trás de uma tecnologia que permite o cultivo de células para o desenvolvimento de tecido humano, como a pele artificial. Segundo Lorena, a plataforma criada não usará o colágeno, como é feito hoje, mas, sim, um material sintético, com aditivos que vão gerar características bactericidas e regenerativas. “A gente acredita que essas características irão permitir o crescimento celular e a formação de pele artificial”, prevê.
Já em outro segmento, a Myps – My Personal Stylist é uma ferramenta on-line e automatizada de consultoria de imagem e estilo. “Nossa proposta é automatizar a entrega do serviço de personal stylist para que mais mulheres tenham acesso a ele de maneira rápida e prática”, resume a CEO da plataforma, a publicitária e personal stylist Juliana Brasil. Segundo ela, a Myps está no ar desde fevereiro de 2016 e, no momento, passa por aprimoramento. “A partir do Fiemg Lab, a gente ficou muito focada no crescimento da base de usuárias e tivemos um resultado impactante: o número de mulheres que fazem o teste de estilo no site cresceu 430% em 30 dias”, comenta.
A taxa de conversão do número de mulheres que entraram no site e fizeram o teste de estilo aumentou de 10% para 25%. O número de cadastros na plataforma também teve crescimento: 38% somente em abril). Agora, a meta é que as usuárias cadastradas realmente tenham interesse de compra do serviço de consultoria. “E também que a gente atraia mais marcas para a nossa plataforma, que é a primeira e única de consultoria de imagem on-line e automatizada do país. A gente quer democratizar o serviço de personal stylist, tornando-o mais acessível para todas as mulheres. Queremos levar mais confiança e autoestima para elas”, finaliza Juliana.
Fonte: Revista Viver Brasil – Maristela Bretas e Miriam Gomes Chalfin