Por: Renato Carvalho / SIMI
Empreender nem sempre é fácil. Há diversas pedras no caminho, já diria Drummond, mas o processo pode se tornar mais simples com a ajuda de quem já percorreu esta trilha da inovação.
Completando o primeiro mês, o 4º #PerfilEmpreendedor do SIMI e do Seed é sobre Pedro Israel, cofundador da startup Melhor Plano, participante da 4ª rodada do programa de aceleração do Governo de Minas Gerais.
Aos 34 anos, Pedro é natural de Bom Despacho, mas mora na capital mineira desde os 15 anos de idade e conta um pouco da sua história.
SIMI: O que é a Melhor Plano?
Pedro: A Melhor Plano, basicamente, ajuda o consumidor economizar nos serviços que contrata. Hoje, somos especializados na área de telefonia celular. Pela plataforma web da Melhor Plano, você encontra comparações entre pacotes de cada operadora, permitindo que o usuário feche um plano mais econômico conforme o seu uso.
SIMI: Quando foi o seu primeiro contato com inovação e empreendedorismo?
Pedro: Minha história como empreendedor foi acontecendo. Eu não tenho uma noção certa de quando virei empreendedor. Eu comecei com uma carreira normal, me formei em Computação na UFMG e mais tarde fui fazer mestrado fora no Brasil. Primeiro fui para a Austrália, na Universidade de Melbourne, só que eu não tinha dinheiro para os dois anos de faculdade. Eu tinha dinheiro apenas para um ano. Só que acabei correndo atrás de uma bolsa de estudos na Europa e ganhei. Larguei a Austrália, fui para lá, em um consórcio de universidades. Fiz o mestrado um semestre na Espanha, um na Itália, um na Suécia, depois voltei para Espanha e fiz minha tese lá. A partir daí eu percebi que não queria voltar para uma empresa. Eu queria ter meu próprio negócio e acabei desenvolvendo um na Espanha. Mas como não tinha raiz alguma lá, a economia não era boa no momento e o Brasil estava bem, resolvi voltar. Comecei a Livobooks, uma empresa que fazia aplicativos infantis, e foi aí que realmente entrei na área do empreendedorismo tecnológico.
SIMI: E como foi a experiência com a Livobooks?
Pedro: Eu não sabia absolutamente nada sobre o processo de startups. Cometi vários erros nesse processo. Foi uma empresa que captou investimento, chegou a fazer um produto de altíssima qualidade, com contratos com gigantes como Discovery Kids e Warner nos EUA. Só que não tínhamos um modelo de negócio bem feito. O produto era muito bom, foi eleito o melhor aplicativo infantil de 2013 pela Apple, mas o negócio não era sustentável. A empresa fechou, mas foi um grande aprendizado. Eu saí muito mal financeiramente e até considerei voltar para o mercado de trabalho, mas foi aí que comecei a Melhor Plano.
SIMI: Como foi a criação da Melhor Plano?
Pedro: Na Livobooks, eu montei um time apenas de produto. Eu não tinha gente com cabeça de vendas. Eu fiquei um ano conversando com meu sócio, o Felipe Byrro. Nós tínhamos, por coincidência, o mesmo problema com empresas de telefonia. Era muito difícil saber quanto consumíamos e quais eram as melhores opções de mercado. Foi aí que enxergamos a oportunidade. “Quantos usuários de telefonia há no país? É uma problema que todo mundo enfrenta”. Criamos a Melhor Plano, como um experimento de monitoramento de contas. Depois passamos pelo Startup Chile e mudamos o modelo para o site de comparação que é o oferecemos atualmente. Desde a mudança, crescemos muito rápido. Hoje, temos mais de 400 mil pessoas utilizando nossa solução todos os meses. Agora estamos na parte de otimizar e formatar esse produto para fazer a comparação de vários outros serviços.
SIMI: E qual foi o papel do Seed no desenvolvimento da startup?
Pedro: A gente chegou no programa já com esse modelo de comparação dando certo, mas o Seed nos proporcionou uma estruturação muito boa. Ao entrar no programa, éramos o Byrro e eu. Quando saímos, éramos sete pessoas na equipe. Hoje, estamos com 13 membros no time. Todo esse modelo de como funcionamento foi desenvolvida no Seed. Durante a aceleração aqui em Belo Horizonte conseguimos multiplicar nosso faturamento por três vezes. Foi um período muito importante.
SIMI: Quais as grandes dificuldades você enfrentou no empreendedorismo?
Pedro: O mais difícil nesse processo, sendo muito sincero, foi a falha que tive na minha primeira empresa. Em termos técnicos, o mais difícil para uma startup é fazer algo que venda no mercado, que seja sustentável. Mas eu diria que o maior desafio como empreendedor é a cabeça sempre boa, mesmo nos momentos difíceis. O empreendedor vai passar por pressões grandes. Todo grande empreendedor já passou por períodos assim. O importante é se manter no controle da situação. Esse exercício mental de estar tranquilo, mesmo nas adversidades, é o maior desafio para o empreendedor. Saber tomar boas decisões, não decisões extremamente emocionais.
SIMI: Muito se fala de mindset empreendedor. Como você construiu o seu?
Pedro: Não sei. É difícil responder. Eu sei que mudei muito, não tenho dúvida alguma. No período de faculdade eu não tinha claro que seria empreendedor, apesar de ter feito algumas iniciativas empreendedoras, que não eram exatamente comerciais, eram aventuras (rs). Mas eu mudei muito a minha personalidade ao longo do processo. Eu era muito mais tímido, por exemplo, e acho que o empreendedor não pode ter medo de levar “não”. As coisas vão mudando ao longo do tempo.
SIMI: Qual dica você dá para formar uma boa equipe?
Pedro: A grande lição que ficou para mim é procurar pessoas diferentes de você, mas que estejam alinhadas com o mesmo objetivo. Tenho uma sociedade muito feliz com o Byrro, porque nós somos muito diferentes em termos de personalidade. Eu tenho uma visão mais analítica, enquanto ele tem uma visão mais comercial e, por isso, o negócio fica bom. Nós temos um objetivo claro, alinhado e transparente sobre o que queremos construir. Temos o mesmo objetivo, mas com maneiras diferentes de resolver o mesmo problema. Isso faz de nós um time muito forte. Então, o principal conselho é procurar alguém que não é igual e nem pensa igual a você.
SIMI: Você se inspira em algum grande nome?
Pedro: Eu acho que é bom entender quem está fazendo grandes coisas. Para mim, quem é referência é o Elon Musk. Acho que o que mais me admira nele é que depois de vender o PayPal, ele poderia ter encostado. Não precisaria se preocupar com mais nada, mas ele continua construindo coisas grandes e arriscando seu patrimônio inteiro. É um cara em que eu admiro a coragem. Agora, historicamente, dos que eu li a respeito é o Benjamin Franklin. O que ele fez durante sua vida, para mim, ele viveu três vidas em uma só. Ele foi um escritor, um grande empreendedor. Foi parte da criação dos primeiros jornais e revistas, veio como imigrante da Inglaterra em um período de construção dos EUA. Depois foi ser cientista, descobriu vários termos usados hoje. Ele que inventou o pára-raio. Ele que mostrou que o raio era feio de eletricidade e não era simplesmente uma carga mística. É um cara que empreendeu em diversas áreas.
SIMI: Muito se fala da carga de trabalho de empreendedor. Como é a sua rotina de trabalho?
Pedro: Minha carga de trabalho varia. Há períodos mais apertados, menos apertados. Ultimamente eu tenho tido pouco tempo, estou com o tempo cronometrado para conseguir entregar tudo. Nas última semanas eu tenho trabalhado mais de 14 horas por dia. Eu sempre reservo um tempinho para descompressão, mas há períodos intensos na empresa. Mas tento, em momentos mais tranquilos, estudar. Gosto de colaborar com a comunidade de inovação também. Sou parte de uma turma que dá aula de empreendedorismo na UFMG e faço isso de maneira voluntária. Não sou uma pessoa que sabe de tudo, mas o que tive de experiência eu vou passar para frente. Além disso, sou músico. Ultimamente tenho tocado menos, mas na outra vida que tive (rs) eu já tive uma banda que tocava pop rock em festas de faculdade. Eu gostava para caramba. Diria, talvez, que foram meus primeiros experimentos como empreendedor. Inclusive o pessoal faz essa piada: antigamente você tinha uma banda de rock, hoje tem uma startup. Eu posso dizer que fiz as duas coisas.
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