#PerfilEmpreendedor  “A universidade e as empresas precisam falar a mesma língua”

#PerfilEmpreendedor “A universidade e as empresas precisam falar a mesma língua”

conexão SEED e SIMI-01 (1)

Por: Renato Carvalho/Simi

O fundador da startup Seja Direto, Matheus Luiz, de 27 anos, é o #PerfilEmpreendedor desta semana. Natural de Sete Lagoas, mas morando na capital mineira desde 2010, o empreendedor conta um pouco sobre sua startup, avalia o empreendedorismo nas universidades e destaca o potencial dos ecossistemas do interior.

Confira a entrevista completa:

SIMI: O que faz a Seja Direto?

Matheus: A Seja Direto faz gestão de marketing e vendas, ajudando as operações de vendas. Há um tempo o processo de venda era analógico. Se você quisesse comprar alguma coisa mais complexa, como um carro, uma casa, era preciso interagir com o ponto de venda. Você ligava e ia no local, de forma analógica. Hoje, a gente antecipa essa interação, o ZMot, o momento da verdade, para o ambiente digital. Então, antes ir até uma concessionária e comprar um carro, entro no site, na campanha do Facebook, no site do marketplace. Isso gera múltiplos canais, mas traz um problema: gera também muito lead, que é o cara que quer comprar. Mas esse lead não é bem tratado e se perde. Nosso primeiro cliente, que ainda é nosso cliente, foi uma operação de revenda de automóveis grande daqui de BH. Eles tinham uma equipe de cinco pessoas e chegava um número alto de leads por semana de seis sites diferentes. Imagina? Chegam 20 hoje e eu tenho que tratar esses caras por 30 dias. Amanhã, chegam mais 20, e isso ficava perdido nas caixas de e-mail. Era um caos. Então, a gente organiza todas as fontes de lead e posicionamento digital em um lugar só. Distribuímos automaticamente para a equipe de vendas e ajudamos, com um sistema extremamente simples, a fazer a gestão disso. Os clientes foram atendidos? Foram bem atendidos? Foram mal atendidos? Em quanto tempo foram atendidos? Quais fontes de leads geraram mais retorno no final do mês? Temos crescido bem. Agora estamos em expansão para o Distrito Federal e para o Sul do país, para grandes grupos de concessionárias. Muita gente que usava o Pipedrive está migrando em massa para o Seja Direto.

SIMI: Como foi o processo de encontrar essa dor de mercado?

Matheus: Foi um processo até atípico. A Seja Direto nasce, comigo como braço executor, junto com uma aceleradora de empresas em que eu trabalhava, que era uma aceleradora de baixa escala. Certo dia, chegam dois investidores-anjos, irmãos, do segmento imobiliário e automobilístico com essa dor na mão. Eles tinham trabalhado muitos anos com operações comerciais desse tipo e viam que as pessoas apanhavam para captar leads. Não davam conta, perdiam muito, convertiam mal e a experiência do cliente final era ruim. Eles tinham algum capital, tinham a ideia, tinham acesso, mas não tinham braço para operar. Na aceleradora, começamos a fazer as primeiras rodadas de validação e, depois disso, eles me chamaram para entrar e começar a puxar o bonde. Nesse momento, convidamos um terceiro parceiro que tinha uma expertise muito grande no mercado automobilístico. Formamos um consórcio, comecei a operar e a startup começou a evoluir.

SIMI: Como foi sua caminhada no empreendedorismo?

Matheus: Sempre quis ser professor. Tenho uma paixão por educação e na faculdade de Engenharia de Produção da UFMG comecei a conhecer esse ambiente de inovação. O professor Cheng, um grande mestre que orientou meu mestrado, fez uma provocação um dia. “Matheus, a gente vende um quilo de minério para a China, sei lá, a R$ 15, 20, algo assim, e a gente compra um quilo de celular a mais de R$ 1 mil. Está ficando tudo lá fora.” Pensei: “caramba, a gente precisa fazer algo”. Foi então que comecei a me apaixonar por inovação, trabalhando em grandes empresas, focado em desenvolvimento de produto, de serviços. Na grande empresa, eu ficava um pouco em consultorias, mas o processo era muito mais lento. Aí, o professor me chamou para ajudar em uma startup da Física e comecei a achar fascinante. Porém, ainda estava pensando em ser pesquisador. Nesse caminho me formei, trabalhei um tempo com o pessoal da Física. Foram muitos desafios, ainda mais tirar uma startup hardtech do papel. Decidi procurar um lugar para fazer um mestrado, comecei a fazer uma sondagem, queria pesquisar sobre método de gestão aplicado à startup. Conheci a aceleradora. Lá, usavam , eu ia lá para aprimorar o processo. Ou seja, meu contato com a aceleradora foi via interesse de pesquisa. Porém, entrei e tinham vários projetos, de startups caminhando ou algumas em validação. Uma dessas era a Seja Direto. Gostei bastante e comecei a me dedicar profundamente. Achei a dor muito válida. O grande motivador foi sempre essa questão: “o que a gente pode fazer para criar valor aqui”. Via muitos colegas da faculdade reclamando que não tinha estágio, mas eu pensava “é claro que a gente não tem emprego de engenharia no Brasil. A engenharia está toda lá fora. Sobra a montagem, que, com todo respeito, não tem tecnologia”. Então esse impulso me levou a começar com a Seja Direto de uma forma meio surpreendente. Eles me chamaram para ser o fundador, para tocar o negócio mesmo. Acho que não saio dessa mais.

SIMI: Como você avalia a importância da universidade no fomento de empreendedorismo e da inovação?

Matheus: Sou um entusiasta disso. Inclusive estamos caminhando para ajudar em algumas conexões do Seed com a UFMG. Embora tenha alguma coisa dos ecossistemas mais maduros de inovação que não dá para copiar, uma coisa é constante: a universidade é um celeiro muito grande. Seja da tecnologia, em si, seja das pessoas, o que é um insumo muito interessante. Esse laboratório do qual eu vim já criou, se não me engano, seis empresas. Todas elas estão caminhando bem. Não se pode criar inovação e empreendedorismo sem universidade. É indissociável. Em nenhum lugar do mundo se faz isso, sem, no mínimo, uma instituição de ciência e tecnologia forte. Existem vários desafios, e não é só no Brasil. Estive na de Berkeley recentemente, e um professor me contou que há 10 anos ele era perseguido. Os outros professores falaram que ele estava em outra dimensão. E não é um tempo tão longo, se for pensar em Berkeley, no Vale do Silício. Aqui temos todos esses desafios, mas a gente precisa encontrar meios de robustecer isso. Temos uma UFMG aqui, várias universidades boas no estado e no país. Isso tem que virar negócio, tem que virar valor econômico.

SIMI: Mas qual é a maior dificuldade do empreendedorismo nas universidades?

Matheus: Existe a questão do mindset, de cultura, mas uma coisa que a gente precisa entender – e eu conheço bem os dois lados – é que os dois lados falam línguas bem diferentes. Precisa de uma tradução. Quais línguas são essas? O timing dos dois ambientes são diferentes. Meu timing na startup é para ontem. Meu timing como pesquisador no doutorado é para daqui a três anos. O nível de profundidade é outro, mas as métricas são diferentes. Na startup, sou cobrado porque preciso ter retorno financeiro rápido, preciso manter time, crescer em uma taxa que justifique o investimento. Já a universidade precisa de artigo, de bolsa para alunos, de ações de extensão. Não acho que isso é necessariamente um problema. A universidade é isso, em grosso modo, no mundo inteiro. A universidade traz a tecnologia em early stage, muito incipiente, e a empresa precisa de uma tecnologia mais madura. São várias questões que precisam de uma tradução, de um intermediador para que aconteça. Essas línguas diferentes precisam ser traduzidas para que a coisa opere. Para que a empresa olhe para a universidade e fale: “de fato esses caras não resolvem esse tipo de problema, mas tem um tipo de problema que eles resolvem muito melhor e me dão muito valor agregado”. E a universidade olhe para a empresa e fale: “de fato esses caras têm uma necessidade que não posso suprir, mas em algum canal isso se encontra”.

SIMI: Vocês estiveram no Seed na 4ª rodada. Como foi a experiência na aceleração?

Matheus: Foi muito legal. Até brinco que antes de entrar no Seed eu tinha algumas ressalvas. Não queria mais participar de um programa de aceleração com a Seja Direto, achava que não fazia muito sentido, pelo fato de a startup ter nascido em uma aceleradora. Embora o modelo seja diferente, o conteúdo é o mesmo. Um dos investidores incentivou a tentar. Me convenci, entrei, com pouca expectativa, e pensei “tomara que não nos atrapalhe”. Mas fiquei extremamente surpreso. O Seed foi muito interessante. O Bruno foi meu agente de aceleração, mas todos os outros agentes são extremamente competentes, pessoas com experiência. O processo de aceleração é muito robusto. Sou pesquisador, sou especialista em método, e os métodos que a turma usa são muito bons. Estávamos com desafio de contratação, desafio de alguns contatos de grandes empresas e o Seed ajudou muito. A gente cresceu cinco vezes estando na aceleração. Amadurecemos muito como empreendedores. Foi um processo muito legal, tanto que ficamos o quanto podia. Saímos recentemente. Fomos meio que incorporados por uma empresa maior. O Seed hoje permanece como uma marca. Fechei uma conta muito boa lá no Sul. A conversa muda quando chegamos lá e falamos que passamos por uma das maiores aceleradoras da América Latina. Foi bem legal.

SIMI: Como é o ecossistema de inovação de Sete Lagoas? Você tem muito contato por lá?

Matheus: Tenho. Eu fico muito feliz. Uma coisa fantástica do Seed é esse retorno que ele prima oferecer para a sociedade, através do programa de difusão. Eu não tenho experiência em outros programas de escala, mas o fato de o Seed ser uma iniciativa que vem do dinheiro público, ele dá liberdade de operação para muito benefício, tanto da startup, quanto do ecossistema. Fui para Sete Lagoas conhecer a galera do Santa Helena Valley, o Marcelo Sander, o Thiago. Eu fiquei animado, porque eu mesmo, que sou de lá, não sabia que estava tendo essa movimentação. Lá tem uma turma boa, crescendo. Estou no grupo do Whatsapp e direto estão fazendo ações.

SIMI: É bacana descentralizar e levar a inovação para outros lugares do estado…

Matheus: Sim, é muito importante porque aqui em BH podemos ter uma competência X, mas cada cidade, cada ambiente tem sua vocação. É assim que a gente robustece a coisa. Em Minas Gerais temos grandes universidades, não dá nem para citar. Então isso é bem legal e favorável.

SIMI: Qual avaliação você faz da Seja Direto hoje e o que você espera para este final de ano?

Matheus: Estamos quase chegando na meta do fim do ano. Estamos bem animados. É a meta de ter um equilíbrio financeiro, passar um pouco do break-even e contratar um pouco mais de gente e reduzir bastante o risco do negócio nessa perspectiva. Era uma meta que tínhamos traçado para o final do ano e estamos às vésperas de chegar, um mês provavelmente. A gente está encontrando um novo segmento de mercado, bem interessante, bem virgem, então espero estar, no final do ano, quatro, cinco vezes o tamanho que estamos hoje. ter uma parceria com um grande player do mercado imobiliário nacional, que já estamos costurando, que pode nos fazer crescer em três anos 20, 30, 40 vezes. Então realmente espero que a empresa se solidifique, cresça o potencial que tem. Uma coisa que falo sempre, e isso espero muito pessoalmente, é fazer empresa de um modo diferente. Você pode conversar desde o cara mais sênior ao estagiário na Seja Direto. Temos um ambiente que valoriza as pessoas de fato, sem blá blá blá. Claro que temos que entregar, startup é essa loucura. Mas o ser humano tem um papel muito importante. Isso é algo que fazemos. A gente precisa manter e crescer, ajudar a somar quem quer disseminar essa cultura. Outro ponto é que fomos reconhecidos como destaque por ajudar o ecossistema. Queremos continuar fazendo isso, não faz sentido ganhar dinheiro e crescer, gerar imposto, e não ajudar quem está no mesmo barco que a gente. Queremos ajudar assim como temos sido ajudados ao longo desses anos. A Seja Direto quer ser uma empresa sólida, obviamente, mas quer ser também uma empresa que planta algumas coisas legais para fazer o nosso ecossistema evoluir.

Via Simi 

#PerfilEmpreendedor – “Abrimos uma startup para tirar as pessoas com deficiência da invisibilidade”

#PerfilEmpreendedor – “Abrimos uma startup para tirar as pessoas com deficiência da invisibilidade”

Por Renato Carvalho/SIMI

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Mesmo com a tecnologia bastante avançada, muitas pessoas com deficiência (PCD) sofrem com dificuldades, em todo o mundo, no seu dia a dia. Aqui no Brasil uma startup trabalha para a fazer a diferença e ajudar na inclusão dessas pessoas.

Geraes Tecnologia Assistiva, fundada por Adriano Assis, de 36 anos, desenvolveu um teclado que se conecta ao computador e que permite que pessoas com deficiências motoras consigam se comunicar. O aparelho substitui o teclado e mouse convencionais e atua a partir de combinações de comandos para formar letras e ações. Quer saber mais sobre a história da startup? Então leia a entrevista de Adriano para o #PerfilEmpreendedor desta semana:

SIMI: Explique o que faz a Geraes?
Adriano: A Geraes é uma startup que fundamos em 2009 para desenvolver tecnologias que pudessem dar autonomia para pessoas com deficiência. O primeiro produto que lançamos na empresa foi um sistema que ajudava cegos a pegar ônibus sozinhos. Os quatro primeiros anos da empresa foram dedicados a essa tecnologia, que chegou a ser instalada em algumas cidades do Brasil. Mas como o cliente único era sempre o poder público, era muito difícil para uma startup se manter. Então de 2013 para 2014 começamos a desenvolver uma tecnologia voltada para um outro público: com deficiências motoras. São pessoas que não conseguem se mover ou se comunicar. Desenvolvemos uma tecnologia que permitiu que essas pessoas pudessem usar o computador. Essa foi a origem da segunda fase, na qual a empresa se encontra hoje.

SIMI: Como funciona a tecnologia?
Adriano: Desenvolvemos um teclado que permitia que pessoas pudessem usar o computador com as mãos ou com os pés, ou até mesmo com o piscar dos olhos. Era um painel que substituía não apenas o teclado, mas também o mouse, para que essas pessoas que não têm uma coordenação fina e que não conseguiam, portanto, usar um teclado e um mouse convencionais, pudessem ter acesso a qualquer computador com total autonomia. Com base nesta tecnologia, criamos o TiX, um equipamento ligado ao computador e que permite total controle da máquina. A tecnologia virou não apenas um produto, mas uma central de uma solução ainda maior, que se propõe não apenas a permitir que pessoas usem computador, mas incluir alunos com deficiência na educação. Permite, também, fazer terapias de reabilitação com pacientes com deficiência.

SIMI: Como surgiu essa dor? Como chegaram a essa solução?
Adriano: Na verdade, isso foi uma ideia bem legal. Nós já tínhamos a startup desde 2009 e estava pelejando com esse sistema para cegos pegarem ônibus. A empresa estava quase fechando as portas. Em 2013, eu já tinha até colocado uma linha, já que no final daquele ano completaríamos cinco anos de existência e a tecnologia não estava indo bem. Só três cidades estavam rodando o sistema, o que era muito pouco para uma empresa de quase cinco anos. Então, com as últimas moedas no bolso, fui participar de uma feira internacional de tecnologia assistiva, em São Paulo, e lá quase nada deu certo. Mas o que deu muito certo foi que acabei conhecendo, por acaso, um cientista da computação mineiro que nasceu com paralisia cerebral. Ele visitou meu estande, me abordou e eu não entendia o que ele dizia, porque a fala dele era muito comprometida, assim como os movimentos. Depois de muita peleja, um amigo traduziu o que ele dizia. Ele era formado em ciência da computação e tinha desenvolvido um protótipo de um teclado para pessoas que têm deficiência como a dele. Ele explicou que se formou com auxílio de um capacete com uma ponteira, usando a testa para poder digitar. No final da graduação, ele criou um conceito de teclado que tinha poucas teclas, mas que ele poderia digitar e fazer combinações com botões grandes. Ele me explicou sobre isso e eu o convidei para vir a Belo Horizonte para me mostrar exatamente isso. Ele me mostrou o protótipo e a gente – eu e meu sócio Júlio, na época professor da UMFG – começou a ajudar o Glayson para melhorar o protótipo para que ele pudesse usar. O protótipo era muito rudimentar, então começamos a usar nosso tempo livre para ajudá-lo. Nossa empresa já tinha data para fechar. Não tínhamos intenção de lançar aquilo como produto de mercado, já que não tínhamos dinheiro. Nesse meio tempo, o Glaysinho me mandou um e-mail dizendo que havia um prêmio nacional de inovação em tecnologia assistiva, oferecido pela Finep. Ele perguntou se poderíamos inscrever o teclado. Li o regulamento e vi que não dava para inscrever o teclado, porque nesse prêmio só podia se inscrever inovações que estivessem no mercado há pelo menos três anos. Mas nosso sistema para cegos já havia sido instalado na primeira cidade há três anos. Então inscrevi o nosso sistema e ganhamos o prêmio, que eu nem lembrava mais qual era. Quando saiu o e-mail da Finep avisando que éramos os vencedores, pensei: “Nossa, que belo jeito que acabar a empresa, ganhando um prêmio”. Quando fui ver, o prêmio era R$ 100 mil. Decidi não mais fechar a empresa. Peguei esse valor, reinvesti na empresa e pivotei. Decidi usar o dinheiro para transformar o novo produto, baseado no teclado. O TiX, que é nosso produto principal, é derivado da ideia desse teclado do Glayson. Surgiu da dor da deficiência da pessoa que criou esse teclado.

SIMI: Você já empreendia antes? Como era seu contato com empreendedorismo?
Adriano: Desde que me formei em Engenharia Elétrica, trabalhei muito pouco tempo com carteira assinada. Dois anos e meio antes de me formar, já trabalhava com hardware, com projetos de eletrônica, programação etc. Logo que me formei, fui para uma empresa maior para trabalhar com tecnologia para mineração. Pouco mais de um ano depois de formado, surgiu a possibilidade de empreender por convite desse professor da UFMG, para montarmos a Geraes e tentar desenvolver esse sistema para cegos pegarem ônibus. Na minha cabeça, iludidamente, eu poderia tocar isso no final de semana. Iria poder continuar trabalhando com mineração e no final de semana iria levando o projeto. Só que em menos de seis meses percebemos que não dava para fazer isso. Pensei “estou novo, não sou casado, não tenho nada em meu nome, não sou arrimo de família, então a hora de fazer algo para dar muito errado é agora”. Decidi largar a mineração e cair de cabeça na empresa, também achando que em pouco tempo a coisa iria virar. Se eu soubesse de metade do que eu passaria, eu jamais teria feito isso. Mas essa é a graça da vida, você não saber o que te espera lá na frente. Tudo que você faz, você faz com entusiasmo, porque você fica com esperança que vai dar certo. Foram nove anos para começar a dar certo. Agora que a coisa está virando, particularmente depois do Seed. A aceleração fez uma grande diferença nesta ascensão da empresa. Já vínhamos numa ascendente, de 2016 para 2017, mas com o impulso do Seed o negócio começou a decolar. Isso lembrando que a startup foi montada em 2009, quando pouco se falava em startup. Ou você era assalariado ou abria ‘firma’. Não havia essa multiplicidade de programas de inovação, de incentivo ao empreendedorismo. Então foi bem complicado. Se eu soubesse que seriam nove anos para começar a dar certo, “putz”, não sei se iria tentar. Agora que o sangue já está pela estrada, não queremos parar de jeito nenhum.

SIMI: Aproveitando o gancho, como era a Geraes antes e depois do Seed? Como foi esse desenvolvimento?
Adriano: Quando fomos selecionados para o Seed, já vínhamos amadurecendo a questão de modelar a empresa para crescer. Até então, em 2016/2017, a empresa era muito dependente de mim como fundador. Meu sócio era professor da UFMG e tinha acabado de aposentar quando passamos no Seed. Então, ele estava entrando na empresa, na prática, depois de oito anos de funcionamento. Sozinho eu não conseguia pensar em escala. Só conseguia pensar em montar e entregar o produto, receber e pagar as contas e fazer o ciclo. Quando entramos no Seed, foi quando meu sócio entrou de cabeça na empresa. foi fundamental para ele se inteirar também do mundo do empreendedorismo, como isso funciona de uma maneira totalmente diferente da academia. Foi legal para ele se nivelar com o que eu estava passando nos últimos anos e também para nós, juntos, nos inteirarmos sobre novos modelos de negócios, sobre novas possibilidades de receitas, sobre como ir para o mercado, como posicionar o produto e as soluções que estávamos oferecendo. Os seis meses que passamos pelo Seed proporcionaram um crescimento conjunto dos fundadores. Com o incentivo financeiro, conseguimos fazer, de uma maneira bem inteligente, aquilo que não conseguíamos, porque nunca tivemos investidor. Conseguimos compor um estoque mínimo e passar a oferecer o produto de uma maneira mais ousada. Não tínhamos como fazer isso porque a vivíamos operando em bootstrapping, que é operar a empresa com os recursos que ela mesma provê. Como não tínhamos um aporte para dar um impulso e sair desse ciclo, o Seed deu esse recurso e nós finalmente saímos desse ciclo e passamos a crescer. Foi uma virada de chave muito importante, tanto do ponto de vista de aprendizado, como também como impulso financeiro para sair daquele estágio. Não adiantaria nada ter o input de conhecimento se a gente não tivesse essa parte financeira para nos apoiar e tirar do lugar.

SIMI: Você falou sobre investidor. Vocês já conseguiram investidor? Como é conseguir investidor na área de tecnologia assistiva?
Adriano:  Nunca buscamos ativamente um investidor, por duas razões basicamente. Primeiro, porque sempre acreditamos na nossa startup. Sempre modelamos como uma empresa convencional do ponto de vista financeiro. Se você abre uma padaria, você tem que gerar caixa no dia seguinte. Não pode ficar esperando um investidor vir e botar dinheiro para girar o negócio. Apesar de ser um produto com potencial de escala, sempre pensamos que se não faturássemos, iríamos morrer. Então sempre demos nosso jeito de gerar caixa para a empresa, de preferência com nossos próprios produtos. De 2015 para 2016, começamos a, efetivamente, não precisar mais contar com empréstimos e colocar dinheiro do nosso próprio bolso para rodar. Isso já foi um grande alívio. Mas nunca paramos para buscar investidor porque já sabíamos que uma hora isso iria, naturalmente, se alimentar. Acreditávamos muito no nosso produto. Outra razão para não buscarmos investidores é porque tanto na área de hardware, como na de tecnologia com pessoas para deficiência, os investidores tradicionais não conhecem muito, não enxergam que é um mercado gigantesco. Não sabem que 20% da população mundial têm alguma deficiência. Eles acham que esse mercado não existe porque você simplesmente não vê essas pessoas na rua. E é isso que estamos fazendo. Abrimos uma startup para tirar a invisibilidade que as pessoas com deficiência tem. A gente está aqui para empoderar as PCDs para fazer com que elas sejam incluídas, para que apareçam.  Quando elas aparecerem todos vão perceber que é um grande mercado. Mas já estaríamos nadando nesse mercado. Agora que não morremos e estamos começando a crescer, estamos nadando em um oceano azul, está bem legal. Há poucos players nesse mercado. Quem quiser entrar no mercado vai ter que aprender muito sobre a causa das PCDs antes de aprender sobre tecnologia. Então nesse momento nem é tão interessante buscar um investidor, porque conseguimos fazer a coisa decolar com esforço próprio. Se a tropeçarmos com alguém que queira fazer parte disso e tenha um feat com nosso negócio, nunca vamos fechar as portas. Mas não é uma necessidade que temos agora. O negócio está andando por conta própria e o melhor dinheiro para se investir na empresa é o dinheiro do seu cliente.

SIMI: Qual é a maior dificuldade para empreender na área de tecnologia assistiva?
Adriano: A primeira é desmistificar algumas coisas. Especialmente no Brasil, existe uma percepção das próprias pessoas com deficiência, e de suas famílias, que todo o equipamento voltado para PCD é caro. Isso não é por acaso. Como não existe praticamente indústria nacional para nada na área, todas as tecnologias estão sendo importadas e chegam aqui por preços exorbitantes. Estávamos começando a quebrar isso agora. As pessoas, às vezes, se negam a procurar soluções para isso por causa do mito do preço. Então, a primeira dificuldade é quebrar isso. A outra questão é convencer todos os stakeholders, os fornecedores, os próprios clientes de que existe uma demanda, existe um mercado para isso. As pessoas estão dispostas a pagar se isso realmente resolver uma dor que elas têm. É justamente aí que tentamos mostrar nosso valor. A gente está entregando alguma coisa que realmente muda a vida dessas pessoas. E nada mais justo do que isso gerar uma processo – financeiramente – que possa escalar. De outra forma isso é filantropia, que, aliás, é outra coisa que precisa ser desmistificada. Muitas vezes, as pessoas falam que estamos ganhando dinheiro em cima das PCD. Não, de forma alguma. Estou melhorando a vida delas. A melhor maneira de melhorar a vida de cada vez mais pessoas é por meio de um negócio. Se eu fosse simplesmente fazer filantropia, doação, caridade, eu não conseguiria escalar. Eu mudaria a vida de uma ou duas pessoas, mas, por meio de um negócio, que é sustentado por sua própria receita, eu posso impactar milhões de pessoas. Não apenas no Brasil, mas lá fora. É preciso que as pessoas mudem esse mindset, de achar que tudo que é relacionado à causa social, ou uma fatia social que está em situação de vulnerabilidade, é uma exploração.

SIMI: O que você vê para o futuro da Geraes?
Adriano: Recentemente, de abril para maio, fomos selecionados como uma das Portfolio Companies da Singularity University. Isso é algo grandioso pra gente. Fazemos parte de um portfólio que é composto por apenas 58 startups do mundo inteiro, que são apoiadas pela Singularity para poder impactar 1 bilhão de pessoas nos próximos 10 anos. Abrimos uma firma nos EUA para isso e a Singularity tem 3% da empresa. Ficamos três semanas no Vale do Silício fazendo um programa de incubação, para aprender sobre estratégias, conhecer nossos conselheiros desta empreitada, que vão nos ajudar a pegar o que desenvolvemos no Brasil e ampliar para ter um impacto também fora. Essa é uma das coisas grandiosas que nos aconteceu este ano e vamos começar a focar em como escalar isso globalmente a partir do segundo semestre. Mas nada vai acontecer lá fora se não estiver acontecendo muito bem aqui dentro. Nossa prioridade ainda é o Brasil, especialmente o mercado educacional, o mercado de inclusão escolar, de alunos com deficiência, principalmente na rede pública. Temos um case muito legal na Prefeitura de Recife, que implantou a nossa tecnologia no início deste ano. Queremos levar nossa solução para outras prefeituras, outros governos de estado e, claro, atender também a pessoa com deficiência que está em casa, que precisa de acessibilidade para usar computador e se comunicar. Vamos continuar atendendo esse público com muita atenção. Foram eles que nos fizeram aprender e melhorar o produto, para entregar algo que gere valor para eles.

Natan Rabelo: “Empreender é tirar da lama um diamante, faz muito com muito pouco”

Natan Rabelo: “Empreender é tirar da lama um diamante, faz muito com muito pouco”

conexão SEED e SIMI-01 (1)

Por: Renato Carvalho/Simi

Empreender não é um processo fácil. Ainda mais depois de anos de trabalho, quando você percebe que é preciso pivotar para o seu negócio funcionar. Mas como lidar com isso? O #PerfilEmpreendedor desta semana traz o fundador da Sidequest, antiga Gamelyst, Natan Rebelo.

Aos 27 anos, o empreendedor, que nasceu no Paraná, passou pela Bahia, Rio de Janeiro, São Paulo, e se estabeleceu em Belo Horizonte. Quer saber o motivo dele ter escolhido Minas Gerais para morar e evoluir o seu negócio? Leia a entrevista completa.

SIMI: Primeiro explica para a gente o que era a Gamelyst e o que é a Sidequest hoje.

Natan: A Gamelyst era um projeto que nasceu em setembro de 2014 com a proposta de ser uma assinatura mensal de jogos para computador: uma Netflix dos games. Já a Sidequest desenvolve soluções digitais customizadas para empresas e indústrias.

SIMI: Como foi sua experiência no SEED?

Natan: O SEED não foi a experiência nossa primeira experiência dentro de aceleração. Acredito que isso também tenha sido um fator importante para chegar até aqui. A gente já tinha vencido o Lemonade 02, depois passamos na aceleração da Techmall e o SEED. Dentre dessas experiências de acelerações, o programa foi um passo importante, especialmente em um momento em que estávamos bem maduros. Ele veio para complementar tudo o que já tínhamos aprendido e o que estava em aprendizado na etapa de mercado, momento em que o bicho começa a pegar.

SIMI: E como você veio para Belo Horizonte?

Natan: Eu venho de família bem humilde. Comecei a trabalhar com 14 anos em lan houses e sempre tive vontade de ser alguém que pudesse mudar o mundo para melhor. Inicialmente pensava em ser presidente do Brasil (rs). Mas eu acho que estava mais para o viés de líder, foi quando percebi que tomando a frente de uma empresa poderia ser bacana. Aos 23 anos fui para o Rio de Janeiro com 300 reais no bolso para estudar Economia na Universidade Federal Fluminense, em Campos do Goytacazes. Lá eu trabalhei como vendedor de sapatos. Recebi bolsa, me tornei líder de classe, fiz iniciação científica, porém percebi que queria ser empreendedor, queria inovar. Quando eu tive a ideia com o Alexandre, que é meu amigo desde a infância, vimos que o Rio não era o melhor lugar para essa parte de tecnologia e de games. Era mais voltado para petróleo, gás e mineração. Então decidimos ir para um lugar que tinha dinheiro e investimento. Fomos para São Paulo, onde percebemos que é um ecossistema grande, mas é um pouco mais complexo, que está um pouco mais maduro e evoluído. Eu estava namorando à distância com uma moça de BH e pensei: “Por que não unir o útil ao agradável?”. Quando vim parar em Belo Horizonte, estava acontecendo um evento do Startup Brasil e custava R$1200 reais a entrada. Eu não tinha dinheiro nem para me manter. Liguei para o organizador e falei: “Eu não tenho dinheiro, mas tenho uma boa ideia. Se você me der oportunidade, eu tenho certeza que vai valer a pena ir no seu evento”. Ele falou: “Já vendemos todos os ingressos, então só se alguém cancelar”. Uma hora antes do evento ele me liga avisando que houve um cancelamento. Lá, conheci o João Bonomo, professor do Ibmec, que adorou minha história de vida, do projeto, e falou que podia nos ajudar. Nos apresentou o Lemonade. Disputamos a entrada, entramos e ganhamos. Depois aconteceu toda essa evolução. Acho que foi a primeira oportunidade que tive de mostrar a minha capacidade, a minha resiliência, que são habilidades que todo empreendedor precisa muito. Empreender não começa dentro da sua startup, é só olhar para sua vida, o que você passou, o tanto que você lutou.

SIMI: Como está a startup hoje?

Natan: Depois de três anos, a Gamelyst foi uma experiência muito boa. Conheci muitas pessoas importantes que agregaram muito ao nosso negócio e para nós mesmos como empreendedores. Percebemos que tínhamos uma tecnologia muito forte, porém que havíamos investido tudo que podíamos na parte da tecnologia. Éramos um projeto B2B2C, ou seja, os estúdios produziam jogos, passavam para a gente, a gente alugava para os clientes. Mas investimos muito na parte B2B, então estava bem estruturada. E quando fomos investir em marketing, não tínhamos dinheiro para colocar para frente. Uma prova de que eu era realmente empreendedor: aprendi que desafios não são problemas, mas oportunidades. Tínhamos um grande desafio pela frente. Sabíamos muito sobre games e as técnicas utilizadas dentro deles, o termo gamificação estava bombando e as empresas estão utilizando bastante. Vimos que era algo legal, que a gente compreendia e que poderia ser aplicada em negócios. Então pensamos: “Por que não começamos a desenvolver aplicativos customizados aplicando o viés da gamificação para as empresas e indústrias da região?”. A primeira empresa que veio nos abordar foi a TekSid, do grupo Fiat Chrysler, e depois disso a gente já fechou um contrato de um ano com uma venture builder, de São Paulo, que chama Internet Intelligence. Outros projetos vieram surgindo e a gente viu que encontramos o nosso mercado. As coisas só foram evoluindo e melhorando. Tínhamos acabado de pivotar a Gamelyst por completo, saindo de um mercado de games e indo para gamificação, desenvolvendo softwares e aplicativos para empresas.

SIMI: É difícil pivotar depois de ter uma trajetória de muito trabalho?

Natan: Não é fácil, quem diz o contrário está mentindo. Depois de muito tempo criando o projeto, se dedicando, vendo a equipe se formar, pessoas investindo, você perceber que precisa mudar é difícil. E aí vem o maior desafio: enxergar que aquilo não é um fracasso, mas sim um aprendizado muito importante para dar um passo que trazer os resultados que sempre almejou, fazer algo que realmente traga valor ao mercado. Tem que entender que você não falhou, mas sim que isso faz parte do aprendizado. Até no (livro) Lean Startup mostra que é preciso estar sempre errando para poder aprimorar. Eu acho que a pivotagem é o master desses erros. Se você souber lidar com eles, pode acabar tornando isso alguma coisa de sucesso que vai trazer resultado.

SIMI: Como é empreender no mercado de games?

Natan: Eu acredito que o mercado de jogos, como o de empreendedorismo e startups, no Brasil, não é explorado há tanto tempo. É algo relativamente novo e o mercado de jogos, principalmente, sempre sofreu preconceito por acharem que era coisa de criança. Mas esquecem que é um mercado que já garantiu mais de 99,6 bilhões de dólares de 2016 para 2017, e que vem crescendo de 4 a 5% por ano. É um mercado gigantesco, mas no Brasil ainda é pouco explorado. Acredito que agora, de 2017 para cá, percebemos que o Governo começou a ver isso como algo importante. Nesse momento, nascem algumas leis de incentivo, alguns investimentos para incentivar a criação de jogos. Os jogos não são só aplicados para diversão e entretenimento, mas podem ser aplicados para educação, para inclusão social e várias outras coisas. É muito desafiador empreender neste mercado.

SIMI: Qual é a maior dificuldade para empreender no cenário de games?

Natan: Primeiro, ninguém da minha família tinha feito uma universidade federal. Então foi uma decisão drástica sair da faculdade e falar que não era aquilo que eu queria. Outra questão é conseguir se manter financeiramente com muito pouco, já que tem uma equipe para poder manter. Aí que está um dos maiores desafios: esse choque entre você ter o seu sonho e a sua realidade. É aí que mora o perigo, já que é preciso estar sempre com o pé no chão. A primeira vez que a gente encontra o empreendedorismo e inovação temos aquela reação “uau, que coisa bacana, sensacional”, só que é preciso ter o pé no chão. Às vezes ficamos flutuando no início. Hoje, com mais experiência, sou mentor, já ajudei mais de 250 startups, então eu falo: “Quanto tempo você tem para se manter até que seu negócio aconteça?” Porque às vezes o tanto que você tem, para o tempo que o seu negócio precisa para acontecer, não é suficiente. De início, o que você tem mais de mais importante no negócio são as pessoas. É aquela regra, pessoas boas fazem bons produtos e pessoas compram bons produtos. Se não tiver boas pessoas, não vai surgir um bom produto para aquilo ali. É um desafio, tem pouco e tem que fazer muito. Tirar da lama um diamante. Por isso são poucas as startups que conseguem alcançar o sucesso. É difícil, mas acredito que os empreendedores são pedras mal lapidadas, e que com esses erros e acertos, eles vão se polindo, e aquela pedra que você achava feia no início, de repente, enxerga o empreendedor completamente diferente depois de cinco anos.

SIMI: O que te fez ficar em Belo Horizonte?

Natan: Olha que eu passei pelo Rio de Janeiro e São Paulo, que são concorrentes do mercado empreendedor de Belo Horizonte. Eu acredito que Minas Gerais tem algo muito bacana é que o fato de o ecossistema estar se criando dentro de um mindset de união, de compartilhamento. Ao mesmo tempo que estou aqui, eu tenho como sócios a Techmall, sou mentor no Lemonade, o Fábio Veras, que é fundador da Fiemg Lab, é investidor da Gamelyst, passei pela aceleração do SEED, que também fizeram parte do nosso processo de aprendizado. Todo o ecossistema te abraça. Para a pessoa que já está aqui dentro, e tem acesso a isso, só basta sair de casa, bater na porta dos lugares e apresentar uma proposta que tenha valor de verdade. Esse é o diferencial de BH.

SIMI: O que você você para o seu futuro e da Sidequest?

Natan: Para o meu futuro eu vejo que nunca vou deixar de empreender. Acho que é uma escolha sem volta. Realmente é um mindset, é uma chave que vira. Você não vai mais conseguir entrar numa empresa, de outra pessoa, e ter que seguir regras, sem que possa dar sua opinião. Porque você se torna criativo, disruptivo, quer transformar e ter um propósito maior. E falando sobre propósito, eu realmente ainda busco entregar algo que vai mudar e agregar o mercado. Eu acho que esse é o meu propósito empresarial. E como propósito pessoal eu ainda quero ter a oportunidade de trazer para dentro do mercado de, alguma forma social, um pouco do que eu não tive acesso a infância. Que outras pessoas possam ter. Tenho esses dois propósitos que caminham lado a lado e que se complementam. Eu acredito que só vou conseguir fazer isso no momento que eu realmente tiver algo de grande impacto para o mercado. Mas isso é bem para frente, não imagino agora.

SIMI: Você tem outros projetos além da Gamelyst/Sidequest?

Natan: Hoje eu fundei uma outra empresa: a Amplifico. A gente oferece um pacote de marketing de conteúdo e engajamento para Facebook e Instagram, para micro e pequenas empresas. É aquilo que te falei, você deixa de enxergar desafios como problemas e passa a enxergar desafios como oportunidade. O empreendedor enxerga oportunidades. Você começa a se tornar empreendedor em série, não pára, está sempre olhando uma solução para as coisas

SIMI: Você tem alguém em quem se inspira?

Natan: Eu tenho meu lema. Não gosto de pegar apenas uma pessoa porque não acredito em perfeição. Tenho várias pessoas que me inspiram. Na parte de criatividade e vendas é o Steve Jobs. É bem clichê, mas eu realmente estudei muito sobre ele, e é alguém que eu odiava. Mas porque eu sempre fui muito mais para o lado do líder e gestão e não acho que ele seja inspiração nesta área. Na área de inovação e tecnologia o Elon Musk é outro clichê, mas me inspira. Na parte estratégica, o Bill Gates fez muitas coisas. A grande sacada é não pegar apenas um como exemplo, mas sim o que vários têm de melhor. Pegue cada um e veja o que eles fizeram de melhor e isso vai servir de inspiração para você.

SIMI: Você tem alguma indicação de leitura?

Natan: Tenho alguns, gosto bastante de ler. Tem o “O lado difícil das coisas difíceis”, um dos melhores livros que já li na minha vida. “De zero a um”, “Lean Startup” é legal para quem está começando. “Estratégia do oceano azul”, é muito bom. Eu acredito que esses quatro são bons livros para se ler.

Via: Simi

#PerfilEmpreendedor: “Growth Hacking é fundamental em qualquer startup”

#PerfilEmpreendedor: “Growth Hacking é fundamental em qualquer startup”

conexão SEED e SIMI-01 (1)Por: Renato Carvalho/SIMI

O #PerfilEmpreendedor desta semana conta um pouco das experiências e visões do responsável pela Tecnologia e Marketing na MyPS, Bruno Ferrão. Com 39 anos, ele aposta no Growth Hacking como caminho para o sucesso de qualquer empresa.

Confira a entrevista completa:

SIMI: Como você entrou na MyPS?

Bruno: Eu tinha uma agência de marketing digital. A Juliana Brasil, fundadora da startup, foi minha colega de trabalho na Reciclo Comunicação, uma agência onde participei na criação do núcleo de inteligência digital, na época da convergência offline + digital. Fomos colegas durante um ano e meio. Quando teve a ideia de montar a MyPS, me procurou e acabei entregando uma consultoria, explicando como funciona os modelos de negócios e a gente desenvolveu a plataforma juntos. Eu recomendei que procurasse o ecossistema de startups, pois vi que o negócio tinha a ver com inovação e seria interessante para absorver o conhecimento e fazer conexões. Mais tarde, quando ela participou do programa de pré-aceleração do Lemonade, ela me procurou e me passou um monte de demandas. Eu vi que era muita coisa e que a plataforma precisaria de ajustes constantes. Foi aí que acabei entrando para a equipe.

SIMI:  Mas você já tinha tido algum contato com empreendedorismo?

Bruno: Eu frequento o SEED desde o primeiro ano, no primeiro Batch. Participei do primeiro Startup Weekend de BH e, na época, eu tinha uma startup que chamava Clube do Saldo, que também era do setor de moda e vestuário. Era um marketplace que conectava marcas de roupas com lojistas de todo o Brasil. Pouca gente sabe, mas muitas vezes, algumas marcas costumam ir para a China fazer um grande pedido, trazem um container com roupas e só conseguem vender 70%. Os outros 30% não tem destino certo. Eles não têm o que fazer com esse saldo. O Clube do Saldo pegava esse material e negociava com lojas de todo o Brasil todo com um valor mais interessante.

SIMI: Você falou que esteve presente em diversos momentos dos SEED.  O que você notou de diferença? Como foi essa evolução?

Bruno: Mudou em termos de amadurecimento. Não só o SEED, mas o ecossistema como um todo. A forma de lidar com startups e desenvolvimento de empresas evoluiu. Agora temos muito mais especialidades, mais informação, muito mais oportunidades de conexão com negócios e investidores. Há também uma participação mais ativa do estado. Naquela época não tínhamos a FINIT e esse evento sensacional é só uma ponta do trabalho que o pessoal da Sedectes está fazendo no estado.

SIMI: Como as startups lidam com a comunicação? Qual a importância de dar valor à esta área?

Bruno: Isto é uma coisa que mudou muito desde a primeira turma do SEED. No Clube do Saldo, tínhamos uma preocupação muito pequena com marketing e comunicação. Mas, esta área tem um papel fundamental no processo, não só para colocar a empresa na prateleira, mas para acelerar as vendas e proporcionar mais conexões.

SIMI: Na área de marketing, você tem algum conselho para quem está começando a empreender?

Bruno: O Growth Hacking* é indispensável para qualquer startup. Temos um grupo super ativo no Facebook que chama Growth Hackers Brasil, onde estão reunidos os principais profissionais atuantes no Brasil e a troca é muito legal. Fizemos o primeiro meetup de Growth Hackers em BH, no final do ano passado. A gente pretende fazer o segundo assim que começar a próxima rodada do SEED, porque queremos disseminar o mindset entre as novas startups.

SIMI: Na faculdade de comunicação ainda é raro ver algum incentivo para empreender. Como mudar esse mindset? Como incentivar os profissionais desta área a abrir seu próprio negócio?

Bruno: Agora que está mais claro o papel fundamental da comunicação e do marketing também no cenário da inovação, o pessoal tem que começar a participar mais e absorver mais do ecossistema e fazer parte. As startups precisam ficar ligadas nisso e procurarem esses profissionais. Normalmente, quem forma em comunicação vai procurar empregos tradicionais, que já não conta com muitos postos de trabalho. Precisamos desse pessoal mais envolvido com o ecossistema.

SIMI: Qual a importância do Growth Hacking para as empresas?

Bruno: Growth Hacker é um profissional que reúne conhecimentos de T.I, engenharia, de marketing e precisa ser criativo. Ele é fundamental em qualquer startup porque é quem vai implementar estratégias fora da curva, para alavancar e fazer crescer mais rápido. Fomos destaque no SEED na rodada passada, ganhamos uma viagem para o Vale do Silício, e o que vimos por lá, é que as startups adotam esse mindset desde o estágio inicial.

SIMI: Você tem alguma meta pessoal como empreendedor?

Bruno: Minha mãe acha que é um defeito, e eu acho que é uma virtude. Eu tenho uma coisa comigo de ajudar as pessoas. Além da MyPS, estou sempre buscando dar uma força para a galera que está empreendendo. Às vezes uma mentoria, às vezes uma consultoria, ou só uma dica, tentando mostrar algo que não tenham notado ainda. Eu tenho essa coisa de ajudar, de querer fazer parte desse processo.

SIMI: O que o SEED acrescentou para você?

Bruno: O SEED foi um divisor de águas. O crescimento profissional é uma coisa absurda: muitas conexões e muito conhecimento absorvido em um período tão curto de tempo. Eu já estava começando a trabalhar a consultoria, mas depois do SEED a coisa deslanchou. O programa agregou demais à minha vida.

SIMI: Qual é a diferença para a rotina de trabalho em uma startup e para uma empresa tradicional?

Bruno: Na empresa tradicional não é que você trabalha 8 horas por dia, às vezes é muito mais que isso também fazendo hora extra. Mas, em sua startup, é 24/7, você dorme e acorda pensando naquilo. Tudo que faz é pensando naquilo, até nos momentos de lazer. É mais prazeroso, porque você está construindo algo próprio. Além disso, a startup tem um time, que está em sua responsabilidade, as pessoas contam com você. O peso é muito maior.

SIMI: Você tem alguma referência na área, alguém em quem você se inspira?

Bruno: Um nome que qualquer Growth Hacker conhece é o Raphael Lassance. Ele é referência no Brasil em Growth Hacking e dá muita palestra pelo país. É um profissional fora de série.

SIMI: O que você gosta de fazer nas horas livres?

Bruno: Eu gosto muito de cultura. Então estou sempre trabalhando na cena musical daqui, principalmente com o pessoal autoral. Faço o BH Tattoo Festival, mas eu estou envolvido com esse pessoal das banda. Eu toco guitarra desde os 11 anos de idade e já tive uma cinco bandas. Quando era mais novo ouvia muito metal, estamos em BH, né, berço do Sepultura.

*Growth Hacking pode ser definido como marketing orientado a experimentos. Com ele, é possível encontrar oportunidades – hacks – e criar estratégias específicas visando o crescimento – growth – da empresa ou startup.

Via Simi

#PerfilEmpreendedor – Pedro Israel revela barreiras enfrentadas em sua trajetória

#PerfilEmpreendedor – Pedro Israel revela barreiras enfrentadas em sua trajetória

conexão SEED e SIMI-01 (1)

Por: Renato Carvalho / SIMI

Empreender nem sempre é fácil. Há diversas pedras no caminho, já diria Drummond, mas o processo pode se tornar mais simples com a ajuda de quem já percorreu esta trilha da inovação.

Completando o primeiro mês, o 4º #PerfilEmpreendedor do SIMI e do Seed é sobre Pedro Israel, cofundador da startup Melhor Plano, participante da 4ª rodada do programa de aceleração do Governo de Minas Gerais.

Aos 34 anos, Pedro é natural de Bom Despacho, mas mora na capital mineira desde os 15 anos de idade e conta um pouco da sua história.

SIMI: O que é a Melhor Plano?

Pedro: A Melhor Plano, basicamente, ajuda o consumidor  economizar nos serviços que contrata. Hoje, somos especializados na área de telefonia celular. Pela plataforma web da Melhor Plano, você encontra comparações entre pacotes de cada operadora, permitindo que o usuário feche um plano mais econômico conforme o seu uso.

SIMI: Quando foi o seu primeiro contato com inovação e empreendedorismo?

Pedro: Minha história como empreendedor foi acontecendo. Eu não tenho uma noção certa de quando virei empreendedor. Eu comecei com uma carreira normal, me formei em Computação na UFMG e mais tarde fui fazer mestrado fora no Brasil. Primeiro fui para a Austrália, na Universidade de Melbourne, só que eu não tinha dinheiro para os dois anos de faculdade. Eu tinha dinheiro apenas para um ano. Só que acabei correndo atrás de uma bolsa de estudos na Europa e ganhei. Larguei a Austrália, fui para lá, em um consórcio de universidades. Fiz o mestrado um semestre na Espanha, um na Itália, um na Suécia, depois voltei para Espanha e fiz minha tese lá. A partir daí eu percebi que não queria voltar para uma empresa. Eu queria ter meu próprio negócio e acabei desenvolvendo um na Espanha. Mas como não tinha raiz alguma lá, a economia não era boa no momento e o Brasil estava bem, resolvi voltar. Comecei a Livobooks, uma empresa que fazia aplicativos infantis, e foi aí que realmente entrei na área do empreendedorismo tecnológico.

SIMI: E como foi a experiência com a Livobooks?

Pedro: Eu não sabia absolutamente nada sobre o processo de startups. Cometi vários erros nesse processo. Foi uma empresa que captou investimento, chegou a fazer um produto de altíssima qualidade, com contratos com gigantes como Discovery Kids e Warner nos EUA. Só que não tínhamos um modelo de negócio bem feito. O produto era muito bom, foi eleito o melhor aplicativo infantil de 2013 pela Apple, mas o negócio não era sustentável. A empresa fechou, mas foi um grande aprendizado. Eu saí muito mal financeiramente e até considerei voltar para o mercado de trabalho, mas foi aí que comecei a Melhor Plano.

SIMI: Como foi a criação da Melhor Plano?

Pedro: Na Livobooks, eu montei um time apenas de produto. Eu não tinha gente com cabeça de vendas. Eu fiquei um ano conversando com meu sócio, o Felipe Byrro. Nós tínhamos, por coincidência, o mesmo problema com empresas de telefonia. Era muito difícil saber quanto consumíamos e quais eram as melhores opções de mercado. Foi aí que enxergamos a oportunidade. “Quantos usuários de telefonia há no país? É uma problema que todo mundo enfrenta”. Criamos a Melhor Plano, como um experimento de monitoramento de contas. Depois passamos pelo Startup Chile e mudamos o modelo para o site de comparação que é o oferecemos atualmente. Desde a mudança, crescemos muito rápido. Hoje, temos mais de 400 mil pessoas utilizando nossa solução todos os meses. Agora estamos na parte de otimizar e formatar esse produto para fazer a comparação de vários outros serviços.

SIMI: E qual foi o papel do Seed no desenvolvimento da startup?

Pedro: A gente chegou no programa já com esse modelo de comparação dando certo, mas o Seed nos proporcionou uma estruturação muito boa. Ao entrar no programa, éramos o Byrro e eu. Quando saímos, éramos sete pessoas na equipe. Hoje, estamos com 13 membros no time. Todo esse modelo de como funcionamento foi desenvolvida no Seed. Durante a aceleração aqui em Belo Horizonte conseguimos multiplicar nosso faturamento por três vezes. Foi um período muito importante.

SIMI: Quais as grandes dificuldades você enfrentou no empreendedorismo?

Pedro: O mais difícil nesse processo, sendo muito sincero, foi a falha que tive na minha primeira empresa. Em termos técnicos, o mais difícil para uma startup é fazer algo que venda no mercado, que seja sustentável. Mas eu diria que o maior desafio como empreendedor é a cabeça sempre boa, mesmo nos momentos  difíceis. O empreendedor vai passar por pressões grandes. Todo grande empreendedor já passou por períodos assim. O importante é se manter no controle da situação. Esse exercício mental de estar tranquilo, mesmo nas adversidades, é o maior desafio para o empreendedor. Saber tomar boas decisões, não decisões extremamente emocionais.

SIMI: Muito se fala de mindset empreendedor. Como você construiu o seu?

Pedro: Não sei. É difícil responder. Eu sei que mudei muito, não tenho dúvida alguma. No período de faculdade eu não tinha claro que seria empreendedor, apesar de ter feito algumas iniciativas empreendedoras, que não eram exatamente comerciais, eram aventuras (rs). Mas eu mudei muito a minha personalidade ao longo do processo. Eu era muito mais tímido, por exemplo, e acho que o empreendedor não pode ter medo de levar “não”. As coisas vão mudando ao longo do tempo.

SIMI: Qual dica você dá para formar uma boa equipe?

Pedro: A grande lição que ficou para mim é procurar pessoas diferentes de você, mas que estejam alinhadas com o mesmo objetivo. Tenho uma sociedade muito feliz com o Byrro, porque nós somos muito diferentes em termos de personalidade. Eu tenho uma visão mais analítica, enquanto ele tem uma visão mais comercial e, por isso, o negócio fica bom. Nós temos um objetivo claro, alinhado e transparente sobre o que queremos construir. Temos o mesmo objetivo, mas com maneiras diferentes de resolver o mesmo problema. Isso faz de nós um time muito forte. Então, o principal conselho é procurar alguém que não é igual e nem pensa igual a você.

SIMI: Você se inspira em algum grande nome?

Pedro: Eu acho que é bom entender quem está fazendo grandes coisas. Para mim, quem é referência é o Elon Musk. Acho que o que mais me admira nele é que depois de vender o PayPal, ele poderia ter encostado. Não precisaria se preocupar com mais nada, mas ele continua construindo coisas grandes  e arriscando seu patrimônio inteiro. É um cara em que eu admiro a coragem. Agora, historicamente, dos que eu li a respeito é o Benjamin Franklin. O que ele fez durante sua vida, para mim, ele viveu três vidas em uma só. Ele foi um escritor, um grande empreendedor. Foi parte da criação dos primeiros jornais e revistas, veio como imigrante da Inglaterra em um período de construção dos EUA. Depois foi ser cientista, descobriu vários termos usados hoje. Ele que inventou o pára-raio. Ele que mostrou que o raio era feio de eletricidade e não era simplesmente uma carga mística. É um cara que empreendeu em diversas áreas.

SIMI: Muito se fala da carga de trabalho de empreendedor. Como é a sua rotina de trabalho?

Pedro: Minha carga de trabalho varia. Há períodos mais apertados, menos apertados. Ultimamente eu tenho tido pouco tempo, estou com o tempo  cronometrado para conseguir entregar tudo. Nas última semanas eu tenho trabalhado mais de 14 horas por dia. Eu sempre reservo um tempinho para descompressão, mas há períodos intensos na empresa. Mas tento, em momentos mais tranquilos, estudar. Gosto de colaborar com a comunidade de inovação também. Sou parte de uma turma que dá aula de empreendedorismo na UFMG e faço isso de maneira voluntária. Não sou uma pessoa que sabe de tudo, mas o que tive de experiência eu vou passar para frente. Além disso, sou músico. Ultimamente tenho tocado menos, mas na outra vida que tive (rs) eu já tive uma banda que tocava pop rock em festas de faculdade. Eu gostava para caramba. Diria, talvez, que foram meus primeiros experimentos como empreendedor. Inclusive o pessoal faz essa piada: antigamente você tinha uma banda de rock, hoje tem uma startup. Eu posso dizer que fiz as duas coisas.

Via Simi

#PerfilEmpreendedor – Pedro Vasconcelos: “Nunca comece a desenvolver um produto antes de vender”

#PerfilEmpreendedor – Pedro Vasconcelos: “Nunca comece a desenvolver um produto antes de vender”

conexão SEED e SIMI-01 (1)

Por Renato Carvalho/SIMI 

Nesta semana, o #PerfilEmpreendedor realizado pelo SIMI e pelo Seed traz um participante da 3ª rodada do programa de aceleração: Pedro Vasconcelos, 27 anos, cofundador e diretor de operações da BeerOrCoffee. À frente da startup, ao lado de sua irmã, Roberta Vasconcelos, o empreendedor revela o momento e os motivos que levaram a empresa a pivotar.

O empreendedorismo vem de família e, desde pequeno, o engenheiro civil foi incentivado pelo pai a ter seu próprio negócio. Por isso, Pedro avalia a importância do apoio familiar. Além disso, ele acredita que o ecossistema mineiro de inovação está crescendo exponencialmente.

A BeerOrCoffe, hoje, é uma plataforma que dá acesso a vários coworkings, conectando pessoas com espaços de trabalho e também a outras pessoas. Confira a entrevista na íntegra:

SIMI: A BeerOrCoffee participou da 3ª Rodada do Seed. Em que o programa agregou à startup?
Pedro: A gente já havia participado de outros programas de aceleração, mas o Seed foi um marco enorme para a BeerOrCoffee, porque tínhamos um outro modelo de negócio. Foi um momento em que a startup pivotou para o modelo atual: um marketplace de coworkings. Então, foi essencial para nos fazer mudar e crescer. Fomos os campeões da 3ª rodada e, por causa do programa, não só encontramos um modelo sustentável e replicável, como crescemos e estamos no patamar em que nos encontramos hoje: temos 65% do mercado do Brasil.

SIMI: Quando você teve o primeiro contato com o empreendedorismo em sua vida?
Pedro: Eu venho de uma família empreendedora. Meu pai tem oito empresas na família e meu avô sempre foi empreendedor. Eu sou sócio da minha irmã e, desde casa, no nossos almoços e jantares, conversávamos sobre negócios. Desde pequenos vendíamos chocolates na escola. Minha irmã vendeu cachorro-quente enquanto estudou no exterior. Mais tarde, em 2008,  já em Belo Horizonte, minha irmã trabalhava na SambaTech, uma startup aqui de Belo Horizonte. Foi quando eu tive o primeiro contato com empreendedorismo em tecnologias e startups. No começo de 2012, nós resolvemos empreender. Tentamos uma vez, duas e na terceira vez, em 2015, começamos o BeerOrCoffee. Um pouco antes, em 2013, a gente começou o Tisdo, que era outra startup, que teve um certo sucesso. O aplicativo foi escolhido como o melhor da AppleStore, faturamos mais de R$ 1,5 milhão com vários clientes como Ambev e Três corações, mas o modelo não era replicável. Não tínhamos uma startup. Tínhamos uma agência de marketing, de desenvolvimento de software.

SIMI: E aí vocês partiram para a BeerOrCoffee…
Pedro: Em outubro de 2015, a gente iniciou a BeerOrCoffee e participamos de um programa de aceleração no Startup Chile. Em 2016, levantamos investimento anjo, participamos do Seed, ganhamos alguns prêmios, como o Google Demoday, o Startup Games, e então conseguimos esse novo modelo e escalamos. Hoje somos uma equipe de 15 pessoas. Crescemos não apenas em equipe, mas em faturamento. Estamos muito felizes com os resultados.

SIMI: Você veio de uma família empreendedora. Crescer com esse mindset empreendedor fez a diferença?
Pedro: Meu pai, principalmente, é uma figura dentro da nossa família que nos incentiva, desde cedo, a ter o nosso próprio negócio. E por mais que ele tenha o próprio negócio, a gente resolveu seguir o nosso caminho. A gente buscou uma forma de impactar muitas pessoas ao redor do mundo e isso é algo que nos incentivou bastante. Eu cheguei a trabalhar com outras pessoas, na área de turismo, de construção civil, mas ele sempre perguntava o que eu iria criar: “E aí, se você fosse fazer isso na sua área profissional, o que você faria?”, ele dizia. Ele é um exemplo dentro de casa. Tivemos esse privilégio de ver ele fazendo e nos inspirar nele, e no resto da família, para fazer igual.

SIMI: Houve dificuldades na construção do negócio, mesmo com o apoio em casa?
Pedro: 
Com certeza. O que a gente mais fez foi falhar. Estamos desde 2011 e só estamos tendo sucesso há um ano e meio, quando saímos do Seed, no começo de 2017. Em todos os outros anos estávamos errando.

SIMI: E o que você destaca de positivo durante o processo?
Pedro: Há três pontos que eu tenho que destacar. Primeiro são as pessoas que encontramos no caminho. A importância de mentores, de empreendedores e até mesmo professores, que vão te ajudar no caminho a não bater a cabeça naquilo que eles já bateram ou fazer com que você enxergue com mais clareza o seu caminho. Hoje temos um networking muito forte e as pessoas que estão ao nosso redor nos ajudam em nosso dia a dia. O segundo ponto  é fazer algo que você ama. O problema que resolvemos hoje, que é mudar a forma como as pessoas trabalham, é algo que me move. Eu tenho um computador na minha mochila e eu posso trabalhar de onde eu estiver. Se estou aqui, se estou em Bali, na Austrália, na Alemanha. Meu sócio mora em Lisboa, minha irmã fica em São Paulo, por questões pessoais. E há um alinhamento do pessoal com o profissional. Se você gosta e ama o que você faz é fácil pular essas barreiras e desafios que estão aí pela frente. O terceiro ponto é não desistir. É ter resiliência. Falhas vão acontecer. Você tem que ser uma pessoa que aprende rápido, através das conexões e da paixão que você tem. Por mais que haja obstáculos no caminho, se você ama o que você está fazendo, e se você tem pessoas boas ao seu lado, você vai conseguir ter sucesso.

SIMI: Qual erro você cometeu e que se você pudesse aconselhar alguém você diria “não faça”?
Pedro: Principalmente na área de tecnologia e startups, o erro é fazer um produto mais complexo possível, mais perfeito possível, antes de você validar sua venda. Vou dar um exemplo. Tínhamos uma base de 30 mil pessoas usando a plataforma e resolvemos lançar a parte de reserva de espaços de coworking. Para funcionar, precisávamos de ter um meio de pagamentos, acesso ao calendário, um controle para fazer as reservas e a página para o cliente acessar. Há vários pontos no produto que você tem que desenvolver, mas resolvemos não fazer nada disso. Decidimos lançar o mínimo possível, o MVP, e em um final de semana fizemos uma página com formulário. Se as pessoas estivessem preenchendo esse formulário, significa que elas queriam reserva. Dessa forma, a gente recebia um e-mail. A partir daí, fazíamos a cobrança, enviávamos a reserva para o coworking e operava tudo isso na mão. O maior erro que fizemos em outras startups foi passar vários meses desenvolvendo um produto maravilhoso, conforme nossa cabeça, e depois, quando lançado no mercado, ver que estava errado. Perdemos tempo e tivemos que mudar tudo. Nunca comece a desenvolver um produto antes de você vender. Venda primeiro, feche com o cliente, seja B2B, ou uma validação no B2C. A partir daí, quando você perceber que não está tendo mais tempo está na hora de desenvolver o produto. Eu aprendi, seja qualquer feature, um produto ou um processo novo que a gente cria na empresa,  sempre fazemos lean, simples e rápido.

SIMI: Vocês entraram no Seed como um aplicativo de conexões. Qual foi o clique para pivotar, como foi esse momento de mudança?
Pedro: Foram dois marcos importantes. O nosso agente de aceleração no Seed, o Daniel, nos fez ver qual eram as áreas que estávamos atacando. Ele nos ajudou a abrir a cabeça. Por mais que fôssemos um aplicativo de conexões, ele era mais usado em coworkings. A gente estava fechando bares e cafés enquanto as pessoas estavam se encontrando em coworkings. O nosso acelerador nos fez ver que tínhamos um erro, mas que tinha solução. Depois fomos para o Google Demoday, também por causa do Seed. Os experts do Google olharam nossas métricas e começaram a buscar modelos que poderíamos atingir. Já havíamos trabalhado em coworking. Ficamos seis meses no Seed, trabalhamos seis meses em Santiago e aprendemos a importância de estar em espaços como esses para conexões. Buscamos um modelo que já funcionava em outro mercado e trouxemos para cá.

SIMI: Como está a BeerOrCoffee hoje?
Pedro: Estamos em mais de 100 cidades, em mais de 500 espaços de coworking. Temos grandes clientes, como Banco Inter, GymPass etc. A gente tem mais de 80 mil usuários. Já representamos 65% do mercado de coworking do Brasil. Dominamos o mercado brasileiro e estamos expandindo internacionalmente para Lisboa. Passamos do break-even, já passamos da parte que se sustenta, estamos tendo um crescimento muito forte. Só nos últimos meses a gente cresceu 40% mês a mês e a vamos levantar, no meio do ano, R$ 5 milhões em uma série A.

SIMI: Você já conheceu diversos ecossistemas, já esteve em vários países. Como você avalia o ecossistema mineiro?
Pedro: Acho que o ecossistema mineiro está melhorando exponencialmente em termos de maturidade, como uma startup. Desde que entrei no Seed, há quase dois anos, era outro mercado, outro ecossistema. Acho que o que faz o nosso ecossistema forte é que temos o poder público, o poder privado, o poder acadêmico, as startups e a inovação todos juntos. Isso é muito forte. No Vale do Silício há a Stanford, as universidades em volta, o poder público é muito forte lá, e tem também o privado, que fez com que a região crescesse. O nosso mindset aqui é sempre de colaboração. Se alguém precisar de ajuda, outras startups vão ajudar sem esperar nada em troca. Essa troca faz com que o ecossistema cresça. O acesso a recursos no Vale do Silício é muito fácil, porque é a Meca da tecnologia e também porque já aconteceu a maturidade do ecossistema. Isso significa que as empresas já foram vendidas, e as pessoas que ganharam dinheiro, sejam os empreendedores ou investidores, reinvestiram no ecossistema, em novas empresas. Isso fez um ciclo, que é o que ainda não aconteceu em Minas Gerais. A partir do momento que houver esses ciclos, vamos crescer muito. O primeiro ciclo que tivemos foi a venda da Akwan para o Google. Eles quiseram manter o Google aqui, ajudar a UFMG, e pensaram no payback. É o que está acontecendo com Hyperloop que está vindo aí. Fazendo isso, o ecossistema vai se oxigenando e crescendo.

SIMI: Qual dica você dá para uma pessoa que está engatinhando no empreendedorismo, mas não consegue sair da inércia?
Pedro: Acho que o principal ponto é a observação. No começo, como empreendedor, você tem que ter esse drive de empreender. Para você ter esse drive de empreender, você tem que resolver um problema. Então no primeiro momento é ficar observando seu dia a dia. Repare na sua rotina, em algo que você não está satisfeito. Foi chamar um táxi e não conseguiu? O cara foi lá e criou o EasyTaxi. Tem que ter esse mindset aberto. Abra a cabeça para ficar observando muito, até encontrar um problema na sua vida que você percebe que pode ser problema de outras pessoas. Se faz sentido resolver, se você tem paixão por isso, faz sentido você atacar esse problema. Se não tem paixão, não vai, porque lá na frente vai ter uma dificuldade e não vai dar certo. O resto do processo tem o Seed, tem a comunidade, tem vários atalhos para te ajudar. Então, o primeiro momento é ficar observando e achar algo que faça um sentido para você.