#PerfilEmpreendedor - Laur: da Estônia para o mundo

Por Isabela Scarioli

Você conhece alguém da Estônia? A gente conheceu. Esta semana, Laur, o loiro de 29 anos, mas que diz que na cabeça tem 16, visitou o SEED para conhecer um pouco melhor o ecossistema de empreendedorismo e inovação de Minas Gerais. 

Parece uma pessoa leve. Quer causar impacto positivo e, para isso, nos contou  que empreende continuamente . “Por isso que tem internet, né?”, diz bem humorado sobre sua forma de aprender.

Publicamos abaixo a conversa na íntegra (feita em português, diga-se de passagem). Para quem quer se inspirar, é um prato cheio.

 

SEED: Conta um pouco para nós como é sua trajetória empreendedora?

LAUR: Cresci em uma fazenda e desde criança era apaixonado por carros, meu sonho era ser engenheiro mecânico. Aos 14 anos aprendi design, a soldar, a fazer cálculos e a criar meu próprio veículo. Fiz um ano de intercâmbio no Brasil aos 16 anos, morei em Petrópolis e Cabo Frio.

Fui fazer faculdade de engenharia mecânica e elétrica na universidade de Bath, na Inglaterra, e comecei a trabalhar como engenheiro e motorista de teste. Na prática, aprendi que não gostava muito de carros. Pedi demissão, tirei quatro meses de férias e fiz um mochilão, o primeiro da minha vida, aos 23 anos. Fui para Califórnia, Costa Rica, Panamá, Brasil. Foi muito legal.

Voltei para a Universidade e fiquei curioso sobre o mercado financeiro. Comecei a estudar blockchain* e a fazer trade com Bitcoins* usando meu próprio dinheiro, que multipliquei várias vezes. Juntei este aprendizado com a neurociência e criei um cérebro artificial que opera nos mercados de criptomoedas. Também criei, com outras pessoas, uma startup que oferece o serviço de compra nos supermercados com celular, mas saí para me aprofundar no universo das finanças.

Terminei a universidade e voltei para a Estônia. Nessa época, a TransferWise* já existia e o líder de produto da empresa me convidou para trabalhar lá. Fui inicialmente gerente de produtos de compliance e logo depois passei a liderar a parte antifraude da empresa. A missão da Transferwise é criar um mundo financeiro sem fronteiras: grátis, instantâneo e conveniente. Lá eu entendi que estou interessado em fazer isso também: encontrar a melhor forma de resolver problemas, que gere menos desafios para os clientes.  

Saí da TransferWise em novembro do ano passado pois já tinha aprendido o que queria: como desenvolver uma organização e fazer um produto escalável. Lá tive contato com as melhores pessoas liderando e criando produtos, mas percebi que precisava do próximo desafio. Há coisas que me interessam mais neste momento. Um tema que me toca muito é a educação e a criação de um mundo sem fronteiras. Agora estou de férias, viajando há três meses e antes do Brasil passei por Honduras e México.  

 

S: O que você está fazendo por aqui?

L: Vim ao Brasil visitar minha família do intercâmbio e fazer knite surf. Quando percebi o que estava acontecendo no ecossistema de empreendedorismo e inovação, resolvi ficar mais uns meses para entender melhor. Visitei universidades, startups, aceleradoras e coworkings nas cidades do Rio de Janeiro, São Paulo, Campinas, Floripa e Belo Horizonte.

Não tinha nenhuma ideia dessa efervescência quando vim para cá, são as minhas férias! Mas agora quero me mudar. Comecei por Floripa a minha pesquisa, lá me conectei com pessoas e startups do país inteiro. Abri o meu calendário para qualquer um marcar uma hora comigo. Quero entender o nível de maturidade das startups no mercado brasileiro e ajudá-las com as forças que eu tenho, pensando na missão de cada uma. Já conversei com umas 40 startups no Brasil.

 

S: Por que o Brasil?

L: Por quê não o Brasil? Para mim o país tanto faz. Mas aqui é um lugar em que as pessoas normais têm muitos problemas e os empreendedores muitas oportunidades. Essa mentalidade e os ecossistemas crescendo é muito rico. Há muita gente vivendo vidas não muito boas. Isso tem que mudar! Posso e quero causar impacto positivo. Não ligo muito para dinheiro. Sou mais de desafios, e esse é um desafio legal, de mudar um país. A Estônia é muito minimalista, dá para votar online, fazer e pagar seus impostos em três minutos, abrir uma empresa em 18. No Brasil é tudo complicado. Quero mudar isso e quando penso no que tenho a oferecer, minhas habilidades são valiosas.

O Brasil está em um momento muito interessante do seu empreendedorismo. O primeiro ciclo está se fechando. Os pioneiros já venderam suas empresas, já tiveram sucesso e estão investindo nos que estão nascendo. Esse é um ponto muito importante. Todos podem ler o Lean Startup*, mas antes de pôr o que está no livro em prática é impossível saber como é a experiência de criar uma organização, liderar, fazer crescer. Isso é fundamental para ter conhecimento nessa área. E no Brasil quem teve êxito está atuando como mentor dos novos empreendedores. Uma coisa que o empreendedor brasileiro tem de especial é que aqui é muito difícil empreender, então ele sabe se virar, atravessar as paredes.

Viajando pelo Brasil agora, conhecendo esses ecossistemas, não tenho como não pensar se é uma bolha ou não, porque cresceu muito rápido. Na mentalidade das startups locais o produto é muito forte, mas outras pensam também em como levantar dinheiro. Isso tem que ser feito no tempo certo, sem cliente não tem startup e não precisa de dinheiro (rs). Uma coisa que brasileiro gosta de fazer e que não é parte do mundo de startups geralmente é vendas e marketing. O problema são as startups que pensam mais em como vender do que em como criar um produto realmente bom. O ecossistema brasileiro precisa entender melhor como cada negócio está melhorando a vida dos seus clientes, tornando-a mais fácil, barata e acessível.

 

S: O que você está fazendo agora?

L: Estou aprendendo novas tecnologias de inovação e brincando com algumas ideias e produtos que estou criando. Uma coisa em que venho pensando muito é em como criar um mundo sem fronteiras. Todos os governos oferecem serviços para as pessoas e empresas e a sociedade paga por estes serviços por meio de impostos. Cada dia fica mais fácil para pessoas e empresas se mudarem e isto está criando competição entre países.

Decidi não decidir nada até o fim do mês. Uma coisa que tenho concreta é que quero me mudar para o Brasil, mas o que vou fazer ainda não resolvi, tenho muitas opções. Várias startups querem trabalhar comigo e tenho pensado em fundar uma aceleradora para criar esse Brasil mais eficiente.

 

S: Como você veio parar no SEED?

L: Em Floripa um dos meus primeiros contatos foi com o André Rota, da Darwin. Ele fez a ponte com o Daniel do SEED. Ontem, fui ao Hub, conhecer os programas do Minas Digital e achei incrível isso ser feito pelo governo. Nos outros países isso é conduzido pela iniciativa privada. Achei muito forte, especialmente esses programas para educação e o SEED. Na verdade não conheço o SEED tão bem, mas o que vi do programa achei muito interessante.

 

S: Qual o seu recado para as pessoas que querem mudar o mundo, tirar ideias do papel?

L: Ideias são baratas, valem dois centavos por ideia. É preciso pessoas boas para realmente criar coisas boas, falhar rápido, seguir em frente e enxergar se o mundo que você está querendo criar funciona para as pessoas reais. Por isso, o SEED é bom, porque tem mentorias, tem pessoas que inspiram as outras.

 

WikiSEED

*Blockchain ou “protocolo de segurança” – tecnologia que visa a descentralização de dados como medida de segurança.

*Bitcoin – moeda digital do tipo criptomoeda descentralizada.

*TransferWise – startup que busca soluções em transferências bancárias para o exterior.

*Lean Startup – livro de Eric Ries que fala sobre o modelo de negócios das startups.

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